Agora me chamam de ícone. Eu não sei bem, não posso dizer que não sei. A palavra é usada em celebrações, em designar personalidades como referências em diversas áreas. Vá lá que seja. Meus apelidos que guardo da época em que não tinha bullying eram porrada mesmo: "Catarina Paraguassu", "Santa Maria", "Luis Caixeiro". O primeiro, porque eu errei o endereço da escola. Um saudoso tio me chamou de Santa Maria em referência a um jogador de sucesso na época. E o cabelo meu espetado é o motivo do terceiro apelido. Outros me sufocam. Por isso, ícone é um apelido? Sou pobre, sem plano de saúde, sem moradia, sem nomeações. Escolhi ser promoteur e trabalhei em consultorias que não faço mais. Dou ideias, é mais barato. Vou consultar compêndios para essa decisão. Olhe, gente, me considero mesmo uma tapeação, enrolado, bobo da côrte. O que faço, escrevo, não sou um poeta, e sou ícone? Não tenho casa de campo, não tenho crédito, mas sou ícone. Pela vida afora foi uma dureza conseguir tantos diplomas. Curti todos os cursos que eu fiz. Acho que vou acrescentar o ícone no currículo. Fui contra uma música que está bombando, que chamam de Lepo Lepo. Quem sabe eu reconsidere. Quem sabe que eu não seja um, com direito a ícone?
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