domingo, 19 de julho de 2009

Charles Henri Jornal Agora [18.07.2009]



Plantadores de Sonhos
Alcides se foi, nesse inverno chorado nas lágrimas de suas filhas. Se foi como chegou, filho, criança, menino, homem. Na dor, na ternura, nesse mundão de Deus à mercê. Aos pais, aos filhos, aos netos, aos bisnetos. Com a simplicidade e a força de uma semente, fecundada no ventre da mãe terra, parindo a sua continuidade, como só a Deus permite.

A lavoura, a pecuária, a família, os amigos, os empregados, o crédito, como ponta de uma estrela no brilho desse homem de bem. Honrado, de uma época que a gente sabe não ser mais a mesma, infelizmente.
Conheci alguns desses homens bravos guerreiros que tinham um comportamento, no início dos tempos áureos do cacau, onde muitos deles se destacavam pelo crédito, respeito no inicio da fundação da Aristocracia Rural, que ajudou esse Brasil a crescer.
Era aqui onde esses desbravadores pioneiros eram chamados de coronéis. Muitos ficaram famosos, destacados nos livros de Jorge Amado e Adonias Filho.
Ilhéus, Itabuna e região têm essas histórias contadas e recontadas. Era nas fazendas, nas propriedades rurais que iniciaram a desbravar a terra viagem, plantando a cultura com o respeito ao semelhante e a educação dos filhos. Homens que comerciavam o cacau nos armazéns com a palavra “eu mando tanto, e trago tanto”, e esse “tanto” valia mais do que documentos, notas promissórias ou talões de cheque. Palavras desses homens soavam como uma sentença em um tempo que já se foi.
Os plantadores, semeadores da esperança, da honestidade, que aqui eu reporto com orgulho para gerações futuras. Muito desses homens foram reconhecidos pela realeza e receberam comendas. Eu não sei o que seria da criação do nosso país sem esses cidadãos chamados de coronéis e que faziam o Brasil se desenvolver do interior para as capitais.












Nossa reportagem aqui e agora tem um nome
Alcides Alves de Mello
No mês da cidade em festa, ao caminho dos 99 anos, quando se inicia a contagem regressiva para o centenário de Itabuna. São tantas as personalidades que vamos buscar do passado, do presente para o futuro cheio de esperanças. Esse espaço tem um compromisso com essa história, uma história de bravos e verdadeiros heróis.

No Vale do Vai Quem Quer
Terras cavadas, buscadas, desbravadas, dessa família que chegou lá com o pai, a mãe e os irmãos. De bandeira do Almada, o inicio de Coaraci e Itajuípe. O bravo Pedro Alves de Mello e sua mulher, Silvina Batista de Mello. A dureza, o esgotamento de uma verdadeira guerra como tantas famílias que plantaram o cacau, que já vinha das sementes que os franceses trouxeram para Canavieiras.
O primogênito e verdadeiro bandeirante, Seu Alcides, ao lado dos familiares, cultuaram a verdadeira lenda do Eldourado. Plantando, colhendo, bandeirando, e depois carregando nos lombos dos burros pelas estradas num verdadeiro canto boricano, nos caminhos íngremes, atravessando matagais e charcos, até chegar ao Porto de Ilhéus, levando para o mundo o ouro daqui, verdadeiros vendedores da saga do cacau.
Muitos ficaram pelo caminho. Mas o bravo Alcides, de uma personalidade extraordinariamente determinante, educado pelo bravo fundador, seu pai, que o colocou nos colégios, onde só se podia fazer até o 5º ano primário, deixando assim a educação para os futuros netos e bisnetos, que seu Alcides comemorou depois.
As terras cresceram, a obra foi uma dignidade que tornaram esses plantadores verdadeiros baluartes, e que eles chamavam simplesmente de tropeiros. Terras amplas, dadivosas, que Seu Alcides foi um pioneiro na proteção do meio ambiente. Em seus córregos e rios de suas fazendas, era proibido arrancar árvores. Esse personagem histórico queria em volta dele, também, o desenvolvimento e progresso das cidades, como Coaraci, Itajuípe, Itabuna, Ilhéus, sempre crescente.
Coronel Alcides foi um dos grandes contribuintes, fundador das lojas maçônicas de Coaraci e Itajuípe. A Maçonaria teve um papel fundamental na educação e na cultura dessa região. Foi administrador da cidade de Coaraci, na época o que seria o prefeito. Delegado, vereador. Nada de importância nesses municípios foram construídos sem a presença discreta, firme e determinante desse bravo construtor do progresso.
Cuidando de seus filhos, de suas roças, ele fundou escolas. Contribuía com as festas anuais dos menos favorecidos, mas não gostava que se alardeasse essa dádiva. Com Alcides Mello, uma plêiade de homens, amigos íntimos, como os saudosos Secundino Neto, Sedar Fontes de Farias, Zelito Fontes, Tarik Fontes, e ainda presentes, Clodoaldo Reis, Nilton Veloso, Raimundo Benevides, Fernando Gomes, José Oduque Teixeira, Zeca Gomes, Ítalo Barra.
Homens firmes, homens de bem, amigos de confiança, que tinham na conta bancária de cada um, entre eles, recursos para suprir as necessidades, como se fossem verdadeiras contas conjuntas. Isso não existe mais.
Quantas contribuições aqui, até para construção de hospitais como o São Lucas, o bravo Alcides contribuía. Ao trabalhar as terras da cacauicultura, ele vislumbrou um crescimento maior. E foi ele, provavelmente, um dos que iniciaram a cultura para transformar essa região em nação bovina. Ele mesmo importou dos Estados Unidos a marca Santa Gertrudes, e fez da pecuária outro império. Ganhou todos os prêmios, troféus de reconhecimento à sua crescente produção.
Na simplicidade, no charme, na elegância de um homem que se confundia com o povo, mas era um nobre senhor. Viajou pelo mundo, América, Europa. Deu educação aos filhos, aquela educação que ele não teve tempo de receber. Por isso, ele não perdia a formatura de nenhum filho e de nenhum neto, festejando com eles.
Seu laço genético, do organograma de sua família, fortaleceu-se com D. Maria José Lima dos Santos. Seu clã, com cinco filhos: Maria Luzia, Marialci, Cidinha, Luis Mario e Luis Felipe, formados, graduados, família que lhe deu tantos netos. O bravo coronel festejou sete netos e quatro bisnetos.

Mãos que plantavam, mãos que dirigiam, que comandavam, na firmeza, na segurança, na imponência, sem maltratar, firmes e determinadas, mãos do filho de Deus.
Os tributos que se prestam a personagens que fazem história é um dever ao cidadão. O nosso é registrar o que a comunicação nos permite, sem tentar fazer um romance, de que, aliás, merece um livro, num tempo futuro. Esse Brasil brasileiro das terras do cacau, da Bahia onde tudo se iniciou e ninguém pode negar. Os nossos bravos soldados da cultura que se tornaram generais, coronéis, figuras de proa, sem os compêndios escolares, sem diplomas e doutorados, aprenderam da vida tirando da vida, o que a vida nos proporciona, o mestrado da fé.
Falar de Alcides Mello, um personagem que a história daqui o confunde com outros tão bravos coronéis, que a palavra às vezes é usada como pejorativa, e ao contrário, registram homens de bem,tão grandiosos e fiéis. Homens que acreditam na vida como viver, no amor, no respeito ao semelhante, no dever cumprido, numa época em que não se tinha horários de trabalho, sem precisar carecer de apoios políticos para que seus projetos de vida crescessem e desenvolvessem. Tudo o que esse homem deixou, na paixão aos seus filhos e sua grande dama é um verdadeiro tratado histórico de amor à fundação das terras do cacau.
Vida dura, mas ele também soube aproveitar o progresso com dignidade. Gostava de bons carros, viajar, festejar em sua propriedade as datas mais importantes do calendário social e cultural.
Na política, era recebido no palácio, na côrte, principalmente pelo seu grande amigo pessoal, Antônio Carlos Magalhães, sem portas fechadas. Os gabinetes eram abertos antes mesmo dele chegar.
Em todas as etapas políticas, esse homem teve uma participação. Era um fiel getulista, e chegou até nós nos partidos modernos, sempre que tivesse interesse no progresso, principalmente das terras onde vivia.


Nos anos dourados, D. Marizete Alcides, Maria Luzia, Luis Mario, Marialci e Cidinha.


Duas filhas queridas: Maria Luzia e Cidinha


Todos os netos queridos: Gustavo, Guilherme, Thiago, Pedro, Mirella e Mariana


As três filhas de Seu Alcides: Marialci, Maria Luzia e Cidinha


Uma festa de formatura na família dos Mello.


Alcides entre os companheiros, como ele tratava os empregados.


O coronel com o bisneto Pedro, filho de Gustavo e Monica, e tantas crianças


Na festa dos 90 anos, Marialci, Cidinha e o amigo Fernando Gomes.


Formatura do neto Guilherme em Direito, em São Paulo


A felicidade do casal Marizete e Alcides nos Réveillons da fazenda


O casal em grandes eventos, dami Marizete Alcides Alves de Mello


O repouso na varanda


Um postal do casal


O orgulho de Alcides, a dama premiada nacionalmente, a mãe dos rios, dami Maria Luzia